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Estupro de influenciadora expõe face mais dura do machismo na sociedade

Marina Ferrer, uma influenciadora digital, viu o homem que a teria estuprado ser inocentado. Mesmo com todas as provas apresentadas, as denúncias de jovem, que tinha 21 anos à época e era virgem, foram julgadas como improcedentes. No dia 09 de setembro de 2020, o juiz Rudson Marcos, da 3ª Vara Criminal de Florianópolis, absolveu André de Camargo Aranha, de 43 anos, da acusação de drogá-la e estuprá-la no beach club Café de La Musique, em Florianópolis.

O caso ocorreu no dia 15 de dezembro de 2018, quando Marina revelou ter sido dopada e estuprada no local em que era embaixadora. Em maio de 2019, a jovem expôs o crime em suas redes sociais e os exames provaram ruptura do seu hímen e ainda identificaram o sêmen de André na sua calcinha. Apesar de o homem relatar nunca ter tido contato físico com a influenciadora, um vídeo mostra ele levando Marina para uma sala particular no beach club.

Para tentar se defender, fotos da vítima foram manipuladas para que ela estivesse nua, como se determinado comportamento, por si só, desqualificasse a denúncia dela. Além de ver André ser inocentado, Marina teve seu Instagram tirado do ar no dia 18 de setembro de 2020. Neste período, o nome da influenciadora se tornou um dos assuntos mais comentados em outra rede social, o Twitter, com os internautas revoltados com a decisão da Justiça e com a censura da sua conta. A hashtag #justiçapormariferrer tornou-se viral.

Nos quase dois anos de julgamento, Marina narrava em seu Instagram as consequências e os traumas deixados pelo estupro, além de pedir justiça pelo caso. Em junho de 2020, ela usou as redes sociais para expor os relatos de casos semelhantes que ocorreram no mesmo estabelecimento. A sua intenção era denunciar e fazer justiça por todas as vítimas, principalmente aquelas que tiveram algozes como o seu. O empresário, que aparenta um alto poder aquisitivo, ostenta fotos com famosos em suas redes sociais, sobretudo do universo do futebol.

No Brasil, ocorre cerca de 180 estupros por dia. 81,8% das vítimas são mulheres e apenas 10% dos estupros são denunciados, e somente 1% dos estupradores são punidos, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A vergonha da violência e o medo de ser culpada pelo crime dificultam as denúncias, pois quando uma mulher tem coragem de relatar um estupro ela é objetificada e desacreditada. Isso aconteceu no caso de Marina, com o próprio acusado tentando vincular determinadas ações da influenciadora como incompatíveis com o seu relato.

Marina Ferrer que era virgem quando foi estuprada é um símbolo da impunidade e machismo da nossa sociedade. Por causa de seu trabalho como influenciadora, a jovem foi desabonada e quase acusada de se expor demais, o que nos impõe a lembrar que a roupa de uma mulher não a faz culpada pela atitude do outro. Marina foi vítima de uma “justiça” que privilegia homens, brancos, héteros e ricos. O maior medo de uma mulher é ser estuprada, pois, além das marcas da violência, ainda existe a falta de punição dos estupradores e a humilhação de ser desacreditada.

 

Vanessa Forte é jornalista, bolsista DTI do CNPq e membro do MíDI – Grupo de Pesquisa em Mídias Digitais e Internet da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

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MíDI - Laboratório de Mídias Digitais e Internet

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