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Todo antipetismo será castigado

O arrependimento deve ser o sentimento que mais floresce no Brasil, desde 2018. Ele está cada vez mais presente nas contas das redes sociais dos brasileiros, sobretudo dos nossos intelectuais orgânicos da pós-modernidade, os influenciadores (digitais). Jair Bolsonaro está diretamente relacionado a esse remorso, quando foi alçado ao maior cargo político do país por causa de outra reação emocional: o antipetismo. O ódio ao Partido dos Trabalhadores (PT) é responsável pela ascensão não só do Messias, mas do bolsonarismo, que representa um pensar preconceituoso e um agir violento que deve permanecer até depois de outro grupo assumir o poder.

Mesmo dois anos após a eleição de Bolsonaro, muitos ainda não assumem que deveriam ter votado no candidato do PT, Fernando Haddad; ao contrário, esses arrependidos chegam até a reafirmar o voto no ex-militar. Enquanto alguns permaneciam em silêncio na eleição do Messias, o chargista e youtuber Maurício Ricardo deixou a sua apatia exposta não votando em ninguém, enquanto fazia um churrasco. Esta sua celebração por pouco não o relacionou ao presidente, quando o mandatário quase promoveu uma festa, no dia em que o Brasil atingiu 10 mil mortos pela pandemia da COVID-19. Até hoje, 13 de julho, ultrapassamos 72 mil vidas perdidas.

A explicação do chargista foi igual a de muitos que resolveram não votar ou escolheram o então candidato do PSL, agora sem partido: era “uma escolha muito difícil” a ser feita naquele segundo turno de eleição presencial brasileira de 2018. O Estadão foi o que primeiro e melhor endossou esse pensamento, solidificado historicamente por um jornalista como Reinaldo Azevedo, para quem o PT era uma quadrilha e seus membros “petralhas”, em associação aos irmãos bandidos dos quadrinhos. Esses intelectuais estão agora lamuriosos por Bolsonaro estar na presidência, assim como o professor e historiador Marco Antônio Villa. Embora uns tenham aderido a essa visão arrependida, eles fomentaram durante anos o embrião do bolsonarismo: o antipetismo. O próprio MBL, Movimento Brasil Livre, assumiu o arrependimento pelo apoio ao presidente e por ter agarrado e incentivado o ódio.

Felipe Neto, maior youtuber brasileiro, tem apresentado uma postura combativa importante contra o atual presidente. O influenciador há mais de uma década nunca negou seu antipetismo, aspecto relevante para a situação que vivemos hoje, e não me refiro especificamente à eleição do Messias, da qual Felipe foi abertamente contrário no segundo turno, mas ao bolsonarismo. Esse ideário bebe do desabono político simbolizado pelo ódio ao PT, e disso o youtuber nunca abriu mão, comparando Lula a Bolsonaro ou clamando pela extinção deste partido político.

Em maio de 2020, Felipe Neto foi entrevistado no Roda Viva e assumiu parcialmente sua responsabilidade. Nos últimos anos, é verdade que ele fez vários mea culpa, inclusive, reconhecendo algumas conquistas do Partido dos Trabalhadores. O youtuber, entretanto, não conseguiu se negar inteiramente, pois os reconhecimentos sempre vinham com ressalvas suficientes a ponto de transparecer – e até escancarar – seu “ódio ao PT”, em suas próprias palavras. Se isso tem a ver mais com sua visão de mundo, com questões econômicas ou com outro aspecto, não me arrisco a cravar.

 

Allysson Martins é jornalista, professor e coordenador do MíDI – Grupo de Pesquisa em Mídias Digitais e Internet da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

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MíDI - Laboratório de Mídias Digitais e Internet

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