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Dia do orientador serve para lembrar e agradecer

A data comemorativa de 4 de dezembro é destinada aos orientadores pedagógicos, mas eu vou fazer uma pequena subversão para homenagear aqueles que me guiaram e tentaram me tornar alguém melhor, não apenas profissionalmente, mas também pessoalmente. Eu sempre fui muito acelerado, correndo para conseguir uma vida mais segura e sem medo do futuro. Mais tranquilo, o tempo me fez desacelerar um pouco essa correria, preocupar-me menos com o amanhã, uma ansiedade proporcionada pelo nosso querido capitalismo. Quem consegue essa estabilidade com os anos, pode olhar para trás com calma e agradecer ainda mais. Eu pensei em escrever este texto no dia dos professores, mas eu não precisava de mais essa pressa e não faria inteiramente sentido, uma vez que aqueles aqui citados foram além disso, embora também tenham me ensinado muito.

Em minha vida profissional, eu tive formalmente três orientadores; digo formalmente pois outros também assumiram esse papel, ainda que indiretamente. Claudio Paiva me guiou durante dois anos de iniciação científica. Thiago Soares ficou comigo um ano para produção de TCC (do projeto à execução). Marcos Palacios me acompanhou durante seis anos no mestrado e doutorado. Embora nove anos compreenda muito da minha existência, esta matemática não permite transparecer a intensidade dessa influência. Essa década de orientação por esses três me mudou completamente, cada um a seu modo e a seu tempo, pois eles estavam lá em fases diferentes da minha vida.

Claudio me apresentou a ciência. Ele me deu uma chance quando eu ainda não tinha completado sequer um ano na graduação. Era difícil para mim, como também era para ele ter de lidar com uma pessoa sem experiência e com uma formação de base não muito boa. Se ele não tivesse me cobrado, como fez no primeiro ano, certamente, eu não teria seguido melhorando, algo que tento até hoje. Ele me ensinou que é preciso ouvir críticas, que isso é fundamental para o desenvolvimento da investigação científica; não há pesquisa sem essas avaliações externas. Foram dois anos de muito conhecimento. Obrigado.

Thiago não aceitou minha ideia de fazer um TCC seguindo a base teórica e metodológica dos meus dois anos de iniciação científica. Eu queria mudar apenas o objeto, para ter mais tempo de focar no meu projeto de mestrado. Ele queria mais, para além do óbvio e fácil, e eu o ouvi. No final, ele estava certo, eu não. Ele me ensinou a não me enquadrar, a sair da redoma, experimentar, e, acima de tudo, contribuir. Agora, eu entendia que ciência exigia esforço, acima de tudo, para descobrir algo novo. Estudar não é pesquisar. Eu não estava mais no início do curso, mas no final dele. Qual seria minha contribuição (ainda que pequena, dimensionando o nível da investigação)? Foi um ano intenso e de muita aprendizagem. Obrigado.

Palacios. Sim, mesmo o conhecendo pessoalmente há uma década, não consigo chamá-lo sempre de Marcos. E não é falta de intimidade, quem o conhece sabe que ele dispensa essas formalidades, mas é um costume de alguém que lia seus textos desde a graduação, sempre citando-o pelo sobrenome. Com ele, eu estava em outra fase da vida, não mais na graduação, mas aprendi que estamos em constante (des)construção, que é preciso calma para entender o tempo do que estamos fazendo e produzindo. Não importa a fase, precisamos buscar constantemente aperfeiçoamento, a ciência não se faz de modo estagnado, agarrado apenas naquilo que já sabemos. É preciso se atualizar de modo contínuo para melhorar. Foram seis anos de muito ensinamento. Obrigado.

Eu não quero me alongar mais, pois ainda assim não conseguiria colocar aqui palavras suficientes para corresponder a tudo que eles fizeram por mim. Este texto é para agradecer, pois tudo de bom que aprendi com eles está marcado em minha trajetória. Eu não quero olhar para trás e perceber que não retribuí todo o carinho profissional e pessoal que eles depositaram em mim. Obrigado, meus queridos, hoje, só me resta a lembrança e a saudade de encontrá-los em casa, entendendo que a ciência também é feita de afetividade.

 

Allysson Martins é professor de Jornalismo e coordenador do MíDI na Universidade Federal de Rondônia (UNIR), cujo desejo é contribuir com a trajetória de outros como fizeram com a dele.

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