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Brasil se aproxima de Gilead ao desprezar minorias e direitos humanos

Jair Bolsonaro possui em seu histórico uma série de situações em que se mostra contrário às minorias. O presidente do Brasil apresenta constantemente discurso de ódio contra as pessoas que não se encaixam em um padrão: homem, branco, cis-hétero e religioso. Margaret Atwood, não coincidentemente, comparou o governo brasileiro com o país distópico que criou em 1985 no livro O Conto da Aia. A obra se passa em Gilead, um país fundamentalista religioso em que o governo concede direitos apenas aos indivíduos que se adequem aos mesmos padrões exigidos pelo presidente.

“Somos um país cristão. Não existe essa historinha de Estado laico, não. O Estado é cristão. Vamos fazer o Brasil para as maiorias. As minorias têm que se curvar às maiorias. As minorias se adequam ou simplesmente desaparecem”.

Foi com uma ideia semelhante a essa que o país fictício foi criado. Esse discurso permitiu que minorias fossem extremamente oprimidas e até exterminadas, pois aquela sociedade não possuía lugar para os indignos que desviassem da norma. A religião tomou conta dos direitos humanos. Aqui, eles são guiados por Damares Alves, uma advogada e pastora evangélica, que se assemelha a uma das Tias, as mulheres mais velhas que treinam e punem as Aias. A ministra brasileira possui frases que poderiam ser ditas por qualquer personagem em Gilead: “A gravidez é um problema que dura só nove meses” e “Não é a política que vai mudar esta nação, é a igreja”.

No mundo distópico da ficção, uma das questões mais relevantes é a gravidez, pois houve um surto de infertilidade na população. Muitas mulheres férteis foram obrigadas a abandonar suas vidas, em muitas situações, seus empregos e filhos, para serem servas de homens que as estupram mensalmente em seus períodos de maior ovulação. Como na história, a gravidez também é uma questão abordada por Bolsonaro, destinando as mulheres a um lugar de maior fragilidade, diminuindo-as: “Por isso o cara paga menos para a mulher (porque ela engravida)”.

O filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um couro, ele muda o comportamento dele. Tá certo?”. A frase homofóbica do presidente se encaixaria muito bem em O Conto da Aia. Em Gilead, os homens homossexuais são enforcados e seus corpos ficam expostos em um muro para que seu “crime” sirva de exemplo para a população do país. As mulheres homossexuais, se férteis, tornam-se escravas sexuais, as Aias; caso contrário, também são assassinadas ou levadas a um campo radioativo para trabalho forçado.

Gilead é uma sociedade majoritariamente branca, com as negras sendo recusadas por famílias que não querem ter um filho “de cor”, não servindo como escravas sexuais. A relação entre o negro e a gestação já foi um ponto associado por Bolsonaro: “Fui num quilombola em Eldorado Paulista. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Acho que nem para procriadores servem mais”. Talvez, Margaret Atwood esteja certa e o Brasil está mais próximo de Gilead do que parece, ao menos dos seus preceitos.

 

Vanessa Forte é jornalista, bolsista DTI do CNPq e membro do MíDI – Grupo de Pesquisa em Mídias Digitais e Internet da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

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MíDI - Laboratório de Mídias Digitais e Internet

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