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Democracia bolsonarista impõe silêncio a jornalistas

O presidente do Brasil deixa transparecer paulatinamente o seu desejo de censurar a imprensa, sendo responsável ainda por mais da metade da violência contra jornalistas. Os seus asseclas, não satisfeitos com a agressão verbal do capitão, pregam a morte dos repórteres e os atingem fisicamente. Já se tornou corriqueira a invasão nas passagens ao vivo (os links) dos telejornais, com puxões de microfone, empurrões de profissionais ou gritos de ordem. Os ataques são constantes e cada vez mais violentos, sobretudo nas recentes manifestações contra a democracia e a vida, pois ocorrem em tempos de pandemia e visam à derrubada do Congresso Nacional e do STF por meio de uma intervenção militar. As reações contra essas agressões precisam ser mais enérgicas, principalmente porque, nas democracias, os jornalistas devem permanecer livres e, acima de tudo, vivos; é nas ditaduras que as regras são diferentes, ou inexistentes.

O jornalismo e seus profissionais são atacados a cada três dias por Jair Bolsonaro, que já: distribuiu bananas, ameaçou cassar concessão, levou humorista para chiste, xingou de canalhice, patifaria, lixo e veneno, além de outras palavras carregadas de preconceito contra mulheres e homossexuais. Até o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa foi marcado por mais agressão. O movimento #eunaomecalo foi uma reação à violência perpetrada pelo presidente, após o mandatário exigir o silêncio dos jornalistas. Essa atitude agressiva e autoritária, entretanto, condiz com o seu histórico. Cansado de conceder entrevistas, algo comum para alguém em seu cargo, o mais importante de um país, bradou um “cala a boca!” que deixariam orgulhosos seus ídolos da ditadura militar. Essas ações violentas já criaram gatilhos em quem viveu a última ruptura democrática do Brasil, como expôs o ator Lima Duarte em desabafo sobre o suicídio do colega de profissão Flavio Migliaccio.

As notas de repúdio se multiplicaram, por causa das constantes ações, falas e posicionamentos do presidente e caterva. Essas manifestações escritas, porém, não têm feito os agressores mudarem suas atitudes. As violências físicas e verbais são corriqueiras. A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) produz mais de uma nota por mês, mas pouco ou nada mudou positivamente. Os jornalistas, e todos que têm apreço pela democracia, precisam se organizar e agir judicialmente contra os agressores. Eles precisam ser identificados e denunciados até para seus empregadores, como fez o jornalista esportivo Mauro Cezar Pereira. A exposição, se não constrange, ajuda na identificação para notificação judicial.

Os jornalistas brasileiros, que já chamaram um presidente de “anta” e um partido político de formação de quadrilha (“petralha“), não podem se calar diante da ascensão autoritária sob o risco de não conseguirem mais se expressar, caso os antidemocráticos consigam implementar o regime que desejam, com intervenção militar. O jornalismo não surgiu na democracia e não necessita desse sistema para existir, ainda assim, é neste regime político que a instituição jornalística se consolida, tornando-se essencial. Em governos desta natureza, informa, investiga e analisa, além de propiciar um espaço para discussão, empatia e mobilização. A instituição se tornou o quarto poder, sem a qual não existe democracia plena.

 

Allysson Martins é jornalista, professor e pesquisador do MíDI – Grupo de Pesquisa em Mídias Digitais e Internet da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

 

Para conhecer
Juremir Machado. 1964: golpe midiático-civil-militar.
Michael Schudson. News and democratic society: past, present, and future.
Paulo Evaristo Arns. Brasil: nunca mais.
FENAJ. Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil (relatório).

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