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VAMOS FALAR DE PREMISSAS? Bolsonarismo guia evangélicos ao racismo

O governo de Jair Bolsonaro tem uma agenda racista e homofóbica; as igrejas protestantes defendem o governo de Jair Bolsonaro; logo, seriam as igrejas protestantes racistas tanto quanto o governo que defendem?

Sobre homofobia nem precisa perguntar. A igreja evangélica nunca escondeu seu caráter homofóbico. Agora, quanto à questão do racismo…

A pergunta é pertinente. A igreja protestante sempre foi racista? Ou ficou racista ao introduzir a agenda bolsonarista ao seu ideário? Ou é bolsonarista sem ser racista?

Alguns podem argumentar: “Mas as igrejas estão cheias de negros. Como podem ser racistas?”. É fato. Bem como é fato que existem negros loteando o governo Bolsonaro. Sérgio Camargo é um exemplo. Detalhe: Camargo só é negro na pele. Na alma, é mais racista do que a totalidade dos brancos que conheço.

A bem da verdade, não há muitos negros loteando o governo. Eles são exceções e Sérgio Camargo é o maior exemplo de um fenômeno: ao aceitarem participar de um governo racista, estão apenas desfrutando desse loteamento, ao mesmo tempo que Bolsonaro tenta maquiar o racismo de sua máquina governamental com a presença de meia dúzia de negros na periferia do poder. Esses poucos negros, ao se locupletarem, dão “legitimidade” e se submetem à condição de “peças de camuflagem” ao racismo arraigado no governo. É um jogo no qual os dois lados saem ganhando.

Há de se notar, ainda, que o crente protestante não é racista – ele não têm o racismo por objetivo ou princípio. Ele apenas comunga cegamente de doutrinas que lhe são interpretadas e imputadas por pessoas ligadas ao “status quo” e acabam por, mesmo que indiretamente, agir de forma racista, homofóbica etc.

DE QUE AGENDA FALAMOS?

O bolsonarismo tem por norma desconstruir a história negra no Brasil na mesma medida em que não poupa esforços no sentido de invisibilizar a questão racial e a agenda anti-racista no país.

Se por um lado não é novidade deste governo, por outro não é possível negar que Bolsonaro e seus asseclas aprofundaram o racismo no Brasil. Isso fica explícito nos discursos dos integrantes desse governo, bem como nas ações ministeriais da administração de Jair Bolsonaro.

Nada é feito no sentido de “incluir”, “apaziguar”, “aproximar”. Pelo contrário, a regra atual do Estado brasileiro é “dividir”, “discordar”, “inferiorizar”, “discriminar”, “animalizar” – em resumo, reduzir e desprezar a importância do negro na construção, na formatação, na estruturação da sociedade brasileira.

Não acredito em meio-bolsonarista, assim como não existe meio-nazista, meio-comunista, meio-fascista, enfim, em política e religião o que existe é o “É” e o “NÃO É”. Entretanto, já que falamos em premissa, essa pode ser uma falsa premissa.

O problema é que isso de “é ou, não é” não funciona na prática. As pessoas são, por natureza, utilitaristas. Isso as fazem navegar por águas opostas de forma interpolada e até simultânea. Nesses termos, o evangélico será bolsonarista nos aspectos em que lhe for conveniente e não hesitará em chutá-lo quando sua defesa lhe for custosa demais. Isso não é exclusividade do evangélico, é, como diria Nietzsche, “Humano, demasiado humano”, ou Augusto do Anjos, “O beijo é a véspera do escarro”.

O caráter racista do governo de Jair Bolsonaro se torna explícito nas palavras de pessoas como o presidente da Fundação Palmares (possivelmente, o negro mais racista do planeta, um autêntico capitão-do-mato), de Hamilton Mourão, do próprio presidente da República, que negam a existência do racismo estrutural no dia em que se comemora o Dia da Consciência Negra no país.

No dia em que João Alberto, um trabalhador negro, é espancado (por mais de cinco minutos) até a morte por seguranças brancos dentro de uma rede multi-nacional de supermercados – uma empresa reincidente e bastante recorrente neste tipo de crime e que, não por acaso, foi desligada da “Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial”.

A pergunta é pertinente. Seria a igreja protestante racista, já que aderiu à agenda do governo Bolsonaro – um governo orientado por uma agenda racista e negacionista em relação ao racismo estrutural arraigado na consciência do povo brasileiro?

A premissa é simples: a agenda do governo Bolsonaro é racista; a igreja protestante (salvas raras e honrosas exceções) aderiram ao ideal bolsonarista de Estado, logo; a igreja protestante é racista tanto quanto o governo que defende.

Resta saber se essa é uma premissa verdadeira.

#BlackLivesMatter
#VidasNegrasImportam

 

Marcus Fernando Fiori é professor de Jornalismo na Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

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